Hoje pela manhã, caminhando pelo meu bairro, pensava nas brutalidades ou bestialidades ocorridas nestes últimos tempos.
Na calçada, cruzo com duas pessoas comentando sobre o assassinato da avó do rapaz drogado, e de sua empregada. Ambas degoladas!
Percebo novamente um pensamento que me causa arrepios: agradeço por meus filhos não haverem me matado!!!!!
O que estará acontecendo? Será que é da natureza humana? Ou que sobrevivo por pura sorte, ou ainda melhor, serei eu uma mãe competente?
Alias, por que será que competência raramente é noticia????
Realmente é chocante, mas penso-me uma vitoriosa! Afinal estou viva……
Faço então aqui uma saudação veemente a todas as mães que continuam vivas, felizes, pois afinal de contas, nunca sabemos com quem estamos morando, do que nossos próprios filhos são capazes.
E a Suzanne? Aquela que apenas queria continuar namorando…. ou o Gustavo, rapaz drogado, que só não matou a mãe por não estar em casa… Pois é assim que nos são apresentados pela imprensa.
Ponho-me a pensar, tentar entender alguma coisa, mas confesso que minha compreensão é altamente limitada, principalmente para atitudes de tamanha agressividade, destrutivas.
Ao escrever este texto, pensei em algo sobre a nobre arte de ensinar psicologia, pois sou professora de graduação e recebo alunos de 1º ano, cheios de expectativas, desejos de aprender, além daqueles que crêem que durante o curso serão capazes de reconhecer e solucionar seus próprios problemas. Ledo engano…..
Ao mesmo tempo, já pensaram no tamanho da responsabilidade? Uma das primeiras coisas que tento informá-los é de que nossa matéria prima é a angústia, e que a meu ver, psicologia é, muitas vezes, mais difícil e de maior responsabilidade que medicina, pois lidamos todo o tempo com subjetividades, com o desconhecido e questões de elaboração interna, sem tempo determinado.
Deverão agora estar pensando: “Mas o que tudo isso tem a ver com o começo do texto, com os Gustavos e Suzannes que existem por ai?”?
Respondo: Que tamanho deve ser a angústia do Gustavo, que precisa se drogar desta forma? E a compreensão da angústia que Suzane vive?
Capacidade de elaboração interna? Provavelmente nenhuma!
Muitas vezes recorro a minha observação do comportamento dos cães que tenho, que em principio não pensam, mas jamais matariam a avó ou os pais, por instinto. A menos, se forem realmente ameaçados! Qual será então a questão?
Voltando as mães sobreviventes, das quais sou uma delas, estamos todas de parabéns, pois certamente temos a capacidade de viver em meio a toda uma situação de responsabilidade, de ameaça latente, mas mesmo assim, continuamos cumprindo bem nossa função.
Mesmo dentro de um ambiente muitas vezes tumultuado e hostil. Mas nunca tão hostil a ponto de sermos vitimas de nossas próprias crias (assim espero).
Creio que o parágrafo acima cabe também no exercício do magistério, pois de uma certa maneira, ao tentar transmitir aquilo que sei, pela minha experiência teórica, pessoal e profissional, não deixo de ser enquanto professora, uma espécie de “mãe” para meus inúmeros alunos, pois sabemos muito bem, que transmitir é uma forma de maternagem e obviamente sei, que nem todos os “filhos” gostam da mãe que tem, afinal de contas, nas duas situações, têm que aceitar a professora que lhes é imposta.
Seja pela família em que nasceu, ou pela instituição que pode estar, sendo que, muitas vezes não é aquela de que gostaria…
Portanto, encerro estas idéias, parabenizando novamente todas as mães (e professores) sobreviventes, pois estamos, a todo o momento correndo sérios riscos, riscos de verdade!
Fica aqui a reflexão, e até a próxima!
Miriam Halpern
Psicóloga e psicanalista
mhalperng@gmail.com